SERENA ASSUMPÇÃO
ASCENSÃO (Order Now)
Ascensão, this contemporary classic of both Brazilian music and culture, captures the clarity and grace of Serena Assumpção in her invocation and embrace of a fundamental but little considered understanding: that we all are, essentially, spiritual beings. Hence, the breath – air, mystery, inspiration – which gives rise to life, consequently, gives rise to chanting; that's why we sing, to return to what we are and to the source of what sound is: propagated vibration, energy. In the Yorùbá (Nagô) cosmogony, each spirit (soul, head) is described as an ori. Oris inhabit an invisible realm called Òrun, also Heaven, ruled by the primal force of the Òrìṣà (the Orishas, Orixás in portuguese), the vital and sacred energy present in all natural elements: the aṣẹ (axé). As such, the earthly life, the bodily and individual human experience of each ori constitutes but a mere and brief interval, a journey through this visible realm that we call Earth, world, the Ayé. Thus, all the paths each embodied being on earth choses and travels by – movement and transformation – are attempts to return, to elevate oneself to the invisible realm, and to heal the visible realm. This is to ascend, this is Ascensão.
For this ascent, Serena Assumpção harmoniously and expressively combines voices and cycles, chants, and sounds – the energy which does not turn into matter touches infinity – with reverence to her own ancestry through the faith of Candomblé, an African diasporic Brazilian religion, also through the poetry and musicality of the rites and songs of African-Brazilian culture and the wisdom chronicled and bequeathed through the spoken word, through ancestral orality. Assumpção collects and assembles here, above all, the enchantment that emanates from the essential gesture of singing, playing, dancing for the orishas and, by inviting us to this xirê – evocation whirl – she offers us, in a fellowship with so many notable Brazilian artists with whom she shared a generation, a hieratic document derived from her research and moulded entirely in dedication to Èṣù (Exu), Ògún (Ogum), Ọ̀ṣọ́ọ̀sì (Oxóssi), Òṣùmàrè (Oxumaré), Ṣàngó (Xangô), Yàńsàn-án (Iansã), Ọṣun (Oxum), Yemọja (Iemanjá), Ìrókò (Irôko), Nàná (Nanã), Obalúayé (Obaluaiê) and Obatalá (Oxalá). And so, all through Ascensão, we find ourselves continuously amidst celebration and gift, intoning and sailing atavic frequencies.
Not only our ears, but the whole extension of our bodies is guided and celebrated by the flow and the flood of the four elements of the universe (oṣa) – water, earth, fire, and air – encircled by animals and plants, the colours, shapes and textures of natural and celestial beings. Because the mantra that resounds here tells us: listening is protection. That we can close our eyes and be sheltered in this visible and invisible realm of Serena Assumpção: here so many waters roll – the primaeval waves of the Kalunga (sea) of the Bakongo people (Bantu) – both salty and sweet, in solid and liquid states, and, from gas state, we are kissed by the air of gales and breezes. There is so much earth, beaten soil, sand from the seas, dirt from the roads, the dust of what remains. Fire comes with spears and metals, glares and flames, transformation. Therefore, this timeless album is also a liturgy for Brazilian memory in the form of musical notes (soul) and words (body), which by the celebration of the grain of love, the praise of the magnitude of encounters and the mustering of hope, rescues, expresses and welcomes life in its utter vibrating spheres. Axé.
Ascensão, este clássico contemporâneo da música e cultura brasileiras, flagra a clareza e graça de Serena Assumpção para invocar e acolher um entendimento fundamental mas pouco considerado: o de que um somos, essencialmente, seres espirituais. Assim, o sopro – ar, mistério, inspiração – que dá origem à vida, origina em consequência o canto; por isso cantamos, para voltar ao que somos e à nascente do som: vibração propagada, energia. Na cosmogonia yorùbá (nagô), descreve-se cada espírito (alma, cabeça) como ori. Oris habitam um reino invisível chamado Òrun, também Céu, regido pela força primordial dos orixás, a energia vital e sagrada presente em todos os elementos naturais, o aṣẹ (axé). Portanto a vida terrena, a experiência humana corpórea e individual de cada ori constitui um breve e mero intervalo, uma travessia por este reino visível a que chamamos terra, mundo, o Ayé. Logo, todos os caminhos escolhidos e percorridos por cada ser material na terra – movimento e transformação – são tentativas de retorno, de elevação ao reino invisível, e cura do reino visível. Isso é ascender, é ascensão.
Para ascender, Serena Assumpção combina harmoniosa e expressivamente vozes e ciclos, cantos e sons – energia que não se transforma em matéria tange o infinito – reverenciando sua própria ascendência pela fé do candomblé, religião afro diaspórica brasileira, e o faz também por meio da poesia e da musicalidade dos ritos e cânticos da cultura afro-brasileira e dos saberes registrados e repassados por meio da palavra falada, da oralidade ancestral. Assumpção recolhe e reúne aqui sobretudo o encanto que se desprende pelo gesto essencial de cantar, tocar, dançar para os orixás e, ao nos convidar para este xirê – roda de evocação – nos oferece, irmanada a tantos artistas brasileiros notáveis de sua geração, um documento hierático oriundo de pesquisa moldada em dedicatória para Exu, Ogum, Oxóssi, Oxumaré, Xangô, Iansã, Oxum, Iemanjá, Irôko, Nanã, Obaluaiê e Oxalá. Por isso, ao longo de Ascensão, nos encontramos continuamente envoltos em festejo e dádiva, entoando e velejando frequências seculares.
Também nossos ouvidos, mas toda a extensão de nossos corpos é conduzida e celebrada pela fluência e afluência dos quatro elementos do universo (oṣa) – água, terra, fogo e ar – circunscritos por animais e plantas, cores, formas e texturas de seres naturais e celestiais, pois o mantra que aqui ressoa nos diz: escuta é proteção. Então podemos fechar os olhos que estamos protegidos neste reino visível e invisível de Serena Assumpção: aqui rolam tantas águas – as ondas primevas da Kalunga (mar) dos bakongo (bantu) – salgadas e doces, nos estados sólido e líquido, e, a partir do gasoso, somos lambidos pelo ar das ventanias e das brisas. Há tanta terra, chão batido, areia dos mares, o pó das estradas, a poeira do que persiste. O fogo vem com as lanças e os metais, o lume, a chama, a transformação. Portanto este álbum atemporal é também uma liturgia para a memória brasileira em notas musicais (alma) e palavras (corpo), que ao celebrar o grão do amor, louvar a magnitude dos encontros e arrolar a esperança, resgata, expressa e acolhe a vida em suas esferas vibratórias totais. Axé.
Bruna Beber, Maio de 2022 (May 2022)
Poeta e pesquisadora brasileira das Poéticas da Voz - UNICAMP
(Brazilian Poet and Researcher of Voice Poetics - UNICAMP)Trans. L. Sant'Anna-Henrique
TRACKLIST
A SIDE
Exu
Arranged By DiPa, Karina Buhr, Luê, Pipo Pegoraro, Serena Assumpção
Lyrics & Music Public DomainOgum
Arranged By Alfredo Bello, Gustavo Souza, Marcelo Monteiro, Serena Assumpção, Tatá Aeroplano
Lyrics & Music By Gilberto MartinsPavão
Arranged By Anelis Assumpção, Curumin
Lyrics & Music By Joãosinho Da GoméaOxumaré
Lyrics & Music By Gilberto MartinsXangô
Arranged By Kiko Dinucci, Serena Assumpção, Simone Sou, Thiago França
Lyrics & Music By Gilberto MartinsIansã
Arranged By Luz Marina
Lyrics & Music By Gilberto Martins
B SIDE
Oxum
Arranged By Curumin, Klaus Sena, Pipo Pegoraro, Ricardo Braga, Serena Assumpção
Lyrics & Music By Gilberto MartinsIemanjá
Arranged By DiPa, Maurício Badé, Pipo Pegoraro, Serena Assumpção
Lyrics & Music By Serena AssumpçãoIroko
Arranged By Letieres Leite
Lyrics & Music By Gilberto MartinsNanã
Arranged By DiPa , Paula Pretta, Pipo Pegoraro, Serena Assumpção, Simone Sou
Lyrics & Music By Gilberto MartinsObaluAiê
Arranged By Adriano Grineberg, Carlos Navas, Juliana Kehl, Marcelo Pretto, Pipo Pegoraro
Lyrics & Music By Gilberto Martins & Serena AssumpçãoOxalá
Lyrics & Music By Cantiga Iorubá